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Jandaia do Sul

Um ano após tragédia com ônibus da Apae, famílias ainda vivem angústia

Acidente tirou a vida de cinco pessoas e deixou outras vinte e três feridas; parentes cobram justiça e segurança nas passagens de nível da cidade

Da Redação

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Escrito por Da Redação
Publicado em 09.03.2024, 07:00:00 Editado em 09.03.2024, 11:25:42
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Um ano após a maior tragédia de Jandaia do Sul, no norte do Paraná, familiares das vítimas do acidente do ônibus da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) com um trem da concessionária Rumo cobram justiça e segurança nas passagens de nível da cidade. O acidente causou cinco mortes, deixou 23 feridos, colocou em xeque a segurança nos cruzamentos rodoferroviários e abalou a vida dos sobreviventes e de quem perdeu entes queridos na colisão.

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Entre as pessoas diretamente afetadas pelo ocorrido está Sueli Aparecida da Silva, mãe do pequeno João Lucas dos Santos Silva, de 8 anos. Ele morreu 14 dias depois do acidente no Hospital Metropolitano de Sarandi. "A minha vida agora é chorar, porque eu não sei mais viver sem o meu filho, está sendo muito difícil. Estou tentando, é um dia após o outro, mas tá muito difícil até falar sobre aquele dia. Aquele motorista apagou o sorriso do João, apagou tudo do João, deixou o João triste", lamentou Sueli.

- LEIA MAIS: Câmera registra acidente entre trem e ônibus da Apae em Jandaia; veja

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A mãe lembra com saudades dos olhos do filho e lamenta que nenhuma providência ainda tenha sido tomada para evitar que outras famílias passem pela dor que ela vive hoje. "Aquele dia o João fechou os olhinhos para nunca mais abrir. Todo o tempo que ele ficou naquele hospital entubado, ele não abriu os olhinhos em nenhum momento. Os olhinhos dele eram a coisa que eu tanto admirava, os irmãos dele todos têm olhos claros. A cancela que tinha que ter não tem, só tem uma placa lá, mas tem gente que respeita e outros não. Peço para as autoridades tomarem uma providência, não deixar que o pior aconteça novamente", cobrou a mãe.

Conforme Sueli, os processos cível e criminal sobre o acidente estão em andamento, porém até agora ela não viu efetivamente nenhuma providência sendo tomada. "Nós, pais, queremos justiça. Esse acidente foi brutal. O motorista alega que não tinha a intenção de matar, mas ele só se preocupou com a própria parte, os outros morreram por imprudência. Almejo por justiça. As crianças são o nosso bem maior que todo mundo tem. Aquele dia, para mim, foi o pior dia da minha vida", declarou Sueli.

Além de João, também faleceram as primas Maria Vitória Gomes Ferreira, com 11 anos, e Kimberly Caroline Ribeiro Pimenta, 15 anos, e a cozinheira da Apae, Isabel Aparecida Gimenes Figueiredo, 55 anos. Uma aluna, Maria de Lourdes Henrique, de 56 anos, que sobreviveu ao acidente, faleceu dias depois na casa da família.

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Luciene Galo, mãe de Raphael Retamiro Sote, um dos alunos que estava no ônibus, relatou que as famílias não receberam auxílio. "Em relação a este caso, nós não temos nada, absolutamente nada. Não teve assistência, não teve indenização, não teve psicóloga. Eu não tive tratamento psicológico, meu filho não teve. A gente não teve nenhum tipo de apoio, nenhuma ajuda de custo, nada" explicou.

As marcas emocionais que o acidente deixou em Raphael e nos outros, segundo a mãe, são um desafio diário.“Todo mundo ficou à deriva, todo mundo ficou isolado, todos se calaram. O Raphael, quando ouve barulho do trem passando ou quando começa a chover - porque na hora do acidente estava chovendo - ele se esconde debaixo da cama, rasga lençóis, fica nervoso. Eu não sei como lidar, porque ele não fala muito”, afirma.

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FAMÍLIAS PROCESSAM MUNICÍPIO

Ângelo da Silveira, advogado que representa os familiares de João Lucas e de outras vítimas do acidente, informa que o processo cível tramita na Vara da Fazenda Pública de Jandaia do Sul e aguarda sentença. Segundo o advogado, a juíza que conduz o caso entende que os documentos e vídeos envolvendo o acidente são suficientes para o julgamento da causa, não demandando necessidade de ouvir testemunhas.

"Os familiares de João Lucas dos Santos Silva buscam na Justiça a reparação pelos danos em ação cível, processo/decisão que não lhes devolverá paz e nem as alegrias que o menino João lhes proporcionava, mas que também possui intuito de mostrar para a sociedade que os culpados não podem se eximir de responder, sob a força da lei, pelo mal que causaram e na extensão dos danos sofridos pelas vítimas", disse o advogado.

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A tragédia ensejou muitas discussões na época, incluindo propostas de alteração na legislação federal e criação de grupos de trabalho. De lá para cá, alguns cruzamentos na região ganharam semáforos, o que não ocorreu no cruzamento da Rua Presidente Kennedy, onde o acidente aconteceu. Silveira afirma que não há sinais de medidas ou sinalizações de trânsito no local e nem modificações nos demais cruzamentos de linhas férreas de Jandaia do Sul. "Tal situação é corroborada pelo acidente recente de em janeiro de 2024, envolvendo uma carreta e novamente a locomotiva da Rumo no cruzamento vizinho ao do acidente com o ônibus com alunos da Apae".

Em agosto do ano passado, o motorista que dirigia o ônibus da Apae no momento do acidente foi indicado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Ele responde o processo em liberdade e aguarda julgamento. A reportagem tentou obter mais detalhes junto ao Fórum de Jandaia do Sul, que informou que o processo criminal corre em segredo de justiça. De acordo com informações apuradas junto a Prefeitura de Jandaia do Sul, o motorista foi exonerado do cargo logo após ser indiciado.

MUNICÍPIO ADOTOU NORMAS DE SEGURANÇA

A chefe do Departamento de Educação e Esportes de Jandaia do Sul, Sheila Cristina da Silva, afirma que muita coisa mudou no sistema de transporte escolar desde o acidente. Segundo ela, o município adotou novas normas de segurança mediante orientação do Ministério Público (MP) além de exigências legais, como a criação de legislação específica para o transporte escolar com a adoção de carteirinhas de estudantes; realização de concurso público para motorista e monitor escolar; georreferenciamento para que os alunos estudem perto de suas casas e evitem o transporte escolar.

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O departamento também passou a monitorar as licenças dos veículos do transporte escolar que também são vistoriados conforme prevê a legislação.

NOTA DA RUMO

Em nota, a Concessionária Rumo salienta que a conclusão do inquérito da Polícia Civil do Paraná apontou para direção culposa do motorista do ônibus escolar que avançou a preferencial da linha férrea, desrespeitando as leis de trânsito e não adotando um comportamento seguro ao realizar a travessia.

"As imagens registradas na época mostram que o local estava devidamente sinalizado e todos os procedimentos de segurança foram adotados pelo maquinista (buzina e freios de emergência)", diz o texto.

A nota diz ainda que a concessionária tem se empenhado na conscientização e prevenção de acidentes, realizando diversas campanhas em vários municípios. No entanto, mesmo com esses esforços, atitudes imprudentes infelizmente persistem.

"A Rumo reforça a importância do cumprimento das normas de trânsito, especialmente ao cruzar passagens em nível, e continua comprometida em intensificar suas iniciativas educativas para promover a segurança nas vias", ressalta.

Sobre os serviços de roçada e manutenção nas proximidades da linha férrea, a empresa disse que mantém diálogos e solicita apoio da administração municipal para executar os serviços de forma periódica, no entanto, o crescimento acelerado da vegetação devido às chuvas recentes tem sido desafiador em toda região Norte do Paraná. Em resposta à alta demanda, a empresa está em processo de contratação de uma nova frente de serviço para agilizar os atendimentos.

Por Lis Kato e Cindy Santos.

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