Porque temos tanta pressa nessa vida?

Da Redação ·
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fonte: Pixabay

Não sei quando foi, mas me lembro da sensação de ganhar a autorização de comer com o garfo, deixando de ser um bebê. Pode parecer estranho, mas eu realmente me lembro da sensação e de como ela se repetiu sobre diversos outros temas ao longo dos meus anos. Você se lembra, caro leitor e leitora, das pequenas grandes vitórias de sua vida?

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Já disse centenas de vezes que ser pai é a possibilidade de reavaliar toda a sua existência, ressignificando cada pequena ação e seu desenrolar. Claro que é necessário se permitir para desbloquear pequenas memórias e tentar desvendar as emoções que as acompanham. Quando minha filha teve autorização para usar caneta na escola, me lembrei de como isso foi importante na minha vez, ao ponto de odiar escrever com lápis até hoje. Sabendo disso, experimentamos várias canetas, compramos kits diversos e nos divertimos com a descoberta de que no fim, ela prefere lápis. A sensação é de cada um, não posso viver por ela, nem querer que ela viva como eu, mas quero estar lá para permitir que ela viva intensamente e não se prive de arriscar – e riscar. 

A pressa que temos em poder realizar algo, muitas vezes é uma insatisfação com o presente. Bem, até aqui nada fora do normal, não é? Mas quando isso é sobre algo que deveria ser bom? Só quem teve um bebê em casa sabe a ansiedade de ouvir “papai” e “mamãe”, uma descrição de “onde” dói ou um simples “boa noite”. E sim, é uma fase complicada, principalmente para as mamães, mas o vazio que surge quando o berço é desmontado é também gigante. Não se trata de ficar preso ao passado, mas da incapacidade de viver o presente. 

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E nessa de “esperar” ele andar, falar, correr, ler... eles crescem e nós envelhecemos. Ainda que não seja o meu caso, já que a minha mais velha sequer completou 9 anos, na adolescência eles começam a buscar seus próprios caminhos. E novamente a pressa, de aprender e viver tudo, de passar no vestibular, mudar de casa, conhecer alguém, namorar, trabalhar, casar... um ciclo sem fim. Mas de repente, os pais se tornam os avós e, mais perto da linha de chegada do que da largada, tendemos a diminuir o ritmo. Não sei se pelo cansaço de tanto correr por toda uma vida ou pelo vislumbre do destino inevitável, o olhar passa a ser mais vagaroso sobre as coisas do cotidiano. 

É uma pena que só consigamos entender isso depois da primeira colina da corrida, quando as pernas se acostumaram com o ritmo e o corpo parece querer descer cada vez mais rápido, apoiado pela gravidade. Maldita gravidade e sua artimanha para nos prender no chão quando o que queríamos era voar. 

Já renovei minha CNH algumas vezes, já recebi diversos diplomas, já finalizei inúmeros anos letivos, comecei e finalizei financiamentos... Tudo foi lindo na primeira vez e começou a se tornar normal com o tempo. Que possamos recuperar a beleza de ver as experiências da vida como se fosse a primeira vez e, principalmente, aproveitar cada um desses momentos sem a pressa do próximo episódio. O futuro é uma constante incerteza, talvez nenhum dos planos aconteça, ou aconteçam sem você ou quem você ama, mas quem sabe com todos os envolvidos? Planejar é necessário, mas viver – aqui e agora – é indispensável. Não tenha pressa, aprecie o caminho.