Um projeto da Secretaria da Mulher de Apucarana está buscando dar mais dignidade às detentas do Minipresídio da cidade. Chamada de Reconstruindo Vidas, a iniciativa leva acompanhamento psicológico, leitura, atendimento médico e projeta ainda cursos de trabalhos manuais e até uma horta que receberá os cuidados das presas. A iniciativa recebeu elogios do Judiciário, da polícia e das próprias detentas.
A secretária municipal da Mulher, Denise Machado, foi quem idealizou o programa. Ela conta que o projeto visa auxiliar na ressocialização das presas. “Essas mulheres estão privadas de liberdade, mas não de direitos. Buscamos garantir que esses direitos sejam respeitados. Assim, quando elas voltarem ao convívio social, possam se sentir com algum amparo”.
Ela avalia ainda que o projeto faz com que as detentas reflitam sobre o papel delas na sociedade. “Não ter nenhuma perspectiva é o que faz com que elas acabem voltando ao crime. Por isso esse projeto é importante, pois beneficia também a sociedade. O projeto amplia os horizontes dessas mulheres e faz com que elas sintam vontade de mudar”.
Por enquanto, o projeto visita a ala feminina do Minipresídio uma vez por semana e desenvolve trabalhos de leitura. Após a leitura de cada livro, elas fazem uma avaliação sobre o conteúdo da obra e, com isso, podem ter a pena diminuída. Atualmente, sete mulheres estão presas no local. “O número oscila bastante. Muitas delas acabam sendo transferidas ou soltas. Mesmo com essas dificuldades, estamos conseguindo estabelecer um bom vínculo com elas, e isso é o mais importante. Elas estão bem diferentes de quando começamos o projeto. Muitas que estão lá não têm para onde ir. Depois que iniciamos as visitas, vemos uma mudança na mentalidade.
Uma delas, inclusive, já nos procurou logo depois de ser solta, o que nos faz acreditar que estamos no caminho certo”, afirma Karinne Mareze Carleto, psicóloga da Secretaria que realiza as visitas, junto a uma estagiária de Direito. A ala feminina foi construída separada da ala masculina, nos fundos do Minipresídio. Por isso, as detentas ficam trancadas durante todo o tempo, sem direito a banho de sol ou qualquer outra atividade. Em comparação, os homens têm direito ao banho de sol diário, além de poderem jogar futebol, capoeira e outras atividades. Visitas também são restritas.
Detentas relatam benefícios alcançados
O perfil das mulheres que estão presas é praticamente o mesmo. A maioria tem entre 20 e 35 anos, baixa escolaridade, vem de família humilde e acabou se envolvendo com o tráfico de drogas ao ajudar o namorado ou marido como forma de ganhar dinheiro ou assumir os negócios de companheiros presos. Por conta disso, segundo a secretaria, projetos de ressocialização acabam sendo bastante efetivos entre as mulheres. Jenifer Rocha Martins, de 23 anos, detida por tráfico, é uma das presas.
“Desde que o projeto começou, sinto que todas aqui mudaram bastante a cabeça. A gente se sente mais amparada e começa a enxergar o mundo de outra forma”, afirma. Essa também é a opinião de Carla Renata Fortunato, de 34 anos. “Agora temos uma ocupação para a cabeça, isso é o mais importante. O projeto tem trazido muitos benefícios para todas nós”, diz.
Judiciário e polícia elogiam iniciativa da secretaria
Os próximos passos do projeto são desenvolver oficinas de artesanato, crochê e demais atividades manuais, além de construir uma pequena horta nos fundos do Minipresídio para as presas cuidarem. A horta, aliás, já tem recurso garantido através da verba do Conselho da Comunidade. O juiz Oswaldo Soares Neto, da 2ª Vara Criminal de Apucarana, tem acompanhado de perto a situação. “Esse é um projeto muito importante, dando mais dignidade no cumprimento da pena por elas. Anteriormente, elas passavam todo o tempo ociosas, o que as leva a perder a perspectiva de mudar de vida.
A horta complementa ainda mais isso, já que as presas hoje não realizam o banho de sol”, ressalta ele. O delegado-chefe da 17ª Subdivisão Policial (SDP) de Apucarana, José Aparecido Jacovós, também elogiou a iniciativa. “A prisão, além de punir, deve servir também para ressocializar. O projeto atua justamente nesse sentido, dando possibilidades para as presas”, afirma.
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