Há alguns anos vivemos uma escalada autoritária no Brasil e no mundo que tem preocupado desde autoridades à pessoas comuns. Desejos de resolução de conflitos e divergências por meio da violência institucionalizada voltaram a ser pauta de discussão em ambientes públicos e privados.
Sabe-se que o esforço pelo controle do outro, no campo das ideias, comportamentos e crenças foram uma realidade expressa na história da humanidade. A tentativa de negar a alteridade, a diferença que nos define, para viabilizar uma homogeneização dos sujeitos foram responsáveis pelo genocídio das populações indígenas, africanas e afro-brasileiras no Brasil, sem falar nos ocorridos em nível mundial.
O processo de colonização executado pelas autoridades portuguesas em parceria com as potências mercantilistas da época foi marcado pela violência, desapropriação cultural e exploração da terra, das riquezas e do povo brasileiro.
Dessa forma, a Independência do Brasil, comemorada no dia 7 de setembro, representa, ao menos em seu ideal, o rompimento colonial de uma nação submetida à outras. No entanto, não representa o fim das barreiras que nos separaram em classes distintas e desiguais em privilégios.
A despeito dos fatos históricos que demonstram que esse processo não foi tão simples e linear, muito menos representou o fim de nossa posição colonial, uma coisa é certa: 199 anos não foram suficientes para que nós brasileiros pudéssemos aprender o básico: que a liberdade é o fundamento da autonomia, da independência.
O 7 de setembro deve ser um dia onde nossas diferenças possam ser expressas na igualdade de direitos, na liberdade de expressão, no combate à violência, ao racismo, na defesa da democracia, do Estado Laico, da compreensão mútua e da garantia das liberdades individuais.
A cada dia perdemos um pouco mais da nossa identidade! Suprimida pelos gritos daqueles que falam mais alto, que batem na mesa, que ameaçam seus iguais e declaram inimigos familiares e “ex amigos".
Estamos reféns da falta do diálogo. Como dizia Paulo Freire “Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que o funda. Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também o é”.
Eu me pergunto, perdemos a capacidade de amar? O amor a que me refiro é o amor pela humanidade, pela sabedoria, pelo conhecimento, pela natureza...
Em seu lugar, nosso amor vem sendo gradativamente substituído pela repulsa, pelo desprezo que fundamenta o processo de desumanização.
Freire nos diz que a desumanização nos rouba o que temos de mais precioso, a nossa vocação de ser mais, de ser melhor... é a maior distorção da história.
Que possamos lutar pela nossa independência, liberdade, mas acima de tudo que possamos lutar pela humanização e respeito, pela empatia, pela afirmação dos homens como pessoas, como ‘seres para si’.
Que possamos lutar para que não nos tirem a esperança que tanto nos caracteriza enquanto brasileiros.